segunda-feira, outubro 24, 2005
Soneto dos Quartos de Aluguer
O amor é só de quem os olhos cerra
no desalmado momento da entrega.
Cerrai-vos, olhos meus, antes que cega
vos cegue a lucidez que nos faz guerra.
Cerrai-vos, olhos meus, que os indiscretos
são punidos com leis muito severas...
Cerrados, sentireis... que primaveras!
Abertos, que vereis senão objectos?
E que abjectos objectos! tão prosaicos!:
tapetes de aluguer com flor's manchadas;
entre os pés do biombo, continuadas
as tábuas do soalho por mosaicos...
...Sempre esse frio sórdido, a seguir
ao fogo em que nos qu'remos consumir!
David Mourão Ferreira
Foto:Alexander Paulin
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