quinta-feira, julho 28, 2005
Uma mulher espera por mim
Uma mulher espera por mim, nela tudo se contém, não falta nada,
No entanto faltaria tudo se lhe faltasse o sexo ou a humidade do homem
certo.
Tudo se contém no sexo, corpos, almas,
Significados, provas, purezas, delicadezas, proclamações, efeitos,
Ordens, canções, higidez, orgulho, o mistério materno, o leite seminal,
As esperanças todas, bens, outorgas, todas as paixões, belezas,
amores, os deleites da terra,
Todos os governos, juízes, deuses, o cortejo de pessoas da terra,
Tudo se contém no sexo como partes de si e justificações de si.
Sem pejo o homem de quem gosto sabe e confessa as delicias do sexo,
Sem pejo a mulher de quem eu gosto sabe e confessa as do sexo dela.
Pois eu me afasto das mulheres insensíveis,
Para ficar com a que espera por mim, e com as mulheres de sangue
quente que me satisfazem,
Eu vejo que elas me compreendem e não me repudiam,
Vejo que são dignas de mim e eu serei delas o marido vigoroso.
Essas mulheres não são em nada inferiores a mim,
Têm o rosto tisnado pelo brilho dos sóis e pelo sopro dos ventos,
Há na carne delas, antigas e divinas, agilidade, força,
Elas sabem nadar, remar, montar, lutar, atirar, correr, bater, recuar,
avançar, resistir, defender-se sozinhas,
São supremas por direito próprio - são calmas, límpidas, donas de si
mesmas.
Puxo vocês para junto de mim, mulheres,
Não as posso deixar ir. vou lhes fazer bem
Existo para vocês e vocês para mim, não apenas para o nosso bem, mas
para o bem dos outros,
Envoltos em você dormem grandes heróis e bardos,
Eles se recusam a acordar pelo toque de outro homem que não eu.
Sou eu, mulheres, abro o meu caminho,
Sou severo, cáustico, indissuadível, mas amo-vos,
Não vos machuco mais que o necessário a vós mesmas,
Derramo a substância geradora de filhos e filhas dignos destes
Estados, assedio com músculo pausado e rude,
Firmo-me eficazmente, não dou ouvido a rogos,
Não ouso retirar-me sem depositar o que há de muito acumulei dentro de
mim.
Através de vós eu dreno os rios enclausurados de mim mesmo
Em vós concentro mil anos de futuro,
Em vós faço enxerto dos tão amados por mim e pela América,
As gotas que em vós destilo farão medrar moças atléticas e ardentes,
novos artistas, músicos, cantores,
As crianças que em vós procrio vão procriar, por sua vez, outras
crianças,
Exigirei, dos meus dispêndios amorosos, homens e mulheres perfeitos,
Eles irão se interpenetrar, espero, como eu e tu agora nos
interpenetramos,
Contarei com os frutos dos generosos aguaceiros deles como conto com
os frutos dos aguaceiros que agora entorno.
Vou ficar à espera das ternas colheitas do nascimento, vida, morte,
imortalidade
Que tão amorosamente planto agora
Walt Whitman
Foto:Nuno Belo
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