sexta-feira, junho 01, 2012

Tapas os caminhos




Tapas os caminhos que vão dar a casa
Cobres os vidros das janelas
Recolhes os cães para a cozinha
Soltas os lobos que saltam as cancelas

Pões guardas atentos espiando no jardim
Madrastas nas histórias inventadas
Anjos do mal voando sem ter fim
Destróis todas as pistas que nos salvam

Depois secas a água e deitas fora o pão
Tiras a esperança
Rejeitas a matriz
E quando já só restam os sinais
Convocas devagar os vendavais

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem


Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa 'mania' de nos trazeres a Sophia...

Bj

Fatyly disse...

O amor incondicional desta nossa poetisa é fabuloso.

Beijos