quarta-feira, janeiro 20, 2010

A sesta



Pierrot escondido por entre o amarello dos gyrassois espreita em cautela o somno d'ella dormindo na sombra da tangerineira. E ella não dorme, espreita tambem de olhos descidos, mentindo o sôno, as vestes brancas do Pierrot gatinhando silencios por entre o amarelo dos gyrassois. E porque Elle se vem chegando perto, Ella mente ainda mais o sôno a mal-resonar.

Junto d'Ella, não teve mão em si e foi descer-lhe um beijo mudo na negra meia aberta arejando o pé pequenino. Depois os joelhos redondos e lizos, e já se debruçava por sobre os joelhos, a beijar-lhe o ventre descomposto, quando Ella acordou cançada de tanto sôno fingir.

E Elle ameaça fugida, e Ella furta-lhe a fuga nos braços nús estendidos.

E Ella, magoada dos remorsos de Pierrot, acaricia-lhe a fronte num grande perdão. E, feitas as pazes, ficou combinado que Ella dormisse outra vez.

Almada Negreiros daqui

Imagem retirada do Google

3 comentários:

polittikus disse...

Independentemente da beleza literária, não gosto de figuras que choram...

Paula Raposo disse...

Que delícia...beijinhos.

Amélia disse...

Sempre gostei mais do Açmada esritor do que do Almada pintor...embora aprecie muitas das suas obras, nomeadamente os frescos da Richa do Conde de Óbidos.