domingo, dezembro 27, 2009

Uma negra convertida



Minha avó negra, de panos escuros,
da cor do carvão...
Minha avó negra de panos escuros
que nunca mais deixou...

Andas de luto,
toda és tristeza...
Heroína de ideias,
rompeste com a velha tradição
dos cazumbis, dos quimbandas...

Não xinguilas, no obito.
Tuas mãos de dedos encarquilhados,
tuas mãos calosas da enxada,
tuas mãos que preparam mimos da Nossa Terra,
quitabas e quifufutilas - ,
tuas mãos, ora tranquilas,
desfilam as contas gastas de um rosário já velho...

Teus olhos perderam o brilho;
e da tua mocidade
só te ficou a saudade
e um colar de missangas...

Avózinha,
às vezes, ouço vozes que te segredam
saudades da tua velha sanzala,
da cubata onde nasceste,
das algazarras dos óbitos,
das tentadoras mentiras do quimbanda,
dos sonhos de alambamento
que supunhas merecer...
E penso que... se pudesses,
talvez revivesses
as velhas tradições!

Mário António

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Bonita homenagem!
Beijos.

polittikus disse...

Não preciso dizer mais nada. BELO.

Fatyly disse...

Como deves calcular...comovi-me por me ser tudo tão familiar. A foto fez-me lembrar a sanzala onde eu tantas vezes levei a minha velha Lemba, que não sendo a avó, fazia o mesmo papel.
Deste poeta também gosto muito o "Beijo-de-mulata"!

A D O R E I!

Beijos e uma bota tarde