quinta-feira, novembro 17, 2005

LXXXI



É impossível percorrer uma gazeta qualquer, seja de que dia for, ou de que
mês, ou de que ano, sem nela encontrar, a cada linha, os sinais da perversi-
dade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as gabolices mais sur-
preendentes de probidade, de bondade, de caridade, e as afirmações mais
descaradas a respeito do progresso e da civilização.
Os jornais, sem exceção, da primeira à ùltima linha, não passam dum
tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes
dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez
de atrocidade universal.
É com esse repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a
sua refeição de cada manhã.
Tudo, nesse mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o semblante
do homem.
Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma
convulsão de repugnância.

Baudelaire (Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)

Imagem daqui

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