quarta-feira, novembro 09, 2005

Desde a aurora



Como um sol de polpa escura
para levar à boca,
eis as mãos:
procuram-te desde o chão,

entre os veios do sono
e da memória procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas:

vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:

é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago:vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.

Sou eu,desde a aurora,

eu-a terra-que te procuro.

Eugénio de Andrade

Imagem daqui

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