segunda-feira, março 28, 2005

Vestígios



Noutros tempos
Quando acreditávamos na existência da lua
Foi-nos possível escrever poemas e
Envenenámo-nos boca a boca com o vidro moído
Pelas salivas proibidas-noutros tempos
Os dias corriam com a água e limpavam
Os líquenes das imundas máscaras

Hoje
Nenhuma palavra pode ser escrita
Nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
Ou se expande pelo corpo estendido
No quarto do zinabre e do álcool-pernoita-se

Onde se pode-num vocábulo reduzido e
Obsessivo-até que o relâmpago fulmine a língua
E nada mais consiga ouvir

Apesar de tudo
Continuamos a repetir os gestos e a beber
A serenidade da seiva-vamos pela febre
Dos cedros acima-até que tocamos o místico
Arbusto estrelar
E
O mistério da luz fustiga-nos os olhos
Numa euforia torrencial.

Al Berto

Imagem "daqui"

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