segunda-feira, dezembro 13, 2004

É a manhã cheia...




É a manhã cheia de tempestade
no coração do verão.

Como lenços brancos de adeus viajam as nuvens
que o vento sacode com viageiras mãos.

Inumerável coração do vento
pulsando sobre o nosso silêncio apaixonado.

Zumbindo entre as árvores, orquestral e divino,
como uma língua cheia de guerras e de cantos.

Vento que leva em rápido roubo a ramaria
e desvia as flechas latentes dos pássaros.

Vento que a derruba em onda sem espuma
e substância sem peso, e fogos inclinados.

Despedaça-se e submerge o seu volume de beijos
combatido na porta do vento do verão.


Pablo Neruda

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