terça-feira, março 16, 2010

Do que nada se sabe



A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges

Imagem retirada do Google

3 comentários:

polittikus disse...

Por vezes é dificil saber quem somos...
Gostei.

Paula Raposo disse...

Na realidade ignoramos. Belo poema!
Beijos.

Fatyly disse...

Também gostei e subscrevo as palavras dos comentadores:)

Beijocas e um bom dia