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A jovem deusa passa
Com véus discretos sobre a virgindade;
Olha e não olha, como a mocidade;
E um jovem deus pressente aquela graça.
Depois, a vide do desejo enlaça
Numa só volta a dupla divindade;
E os jovens deuses abrem-se à verdade,
Sedentos de beber na mesma taça.
É um vinho amargo que lhes cresta a boca;
Um condão vago que os desperta e toca
De humana e dolorosa consciência.
E abraçam-se de novo, já sem asas.
Homens apenas. Vivos como brasas,
A queimar o que resta da inocência.
Miguel Torga
Foto:George Portz
3 comentários:
Belo poema de Torga!! Obrigada pela partilha, Isabel. Beijinhos.
A admirável virgindade!... Há que se perca por ela, perdendo-se e outros que pela perda se perdem!... Há quem se encontre nessa perda e continue reencontrando-se em admiráveis momentos... de prazer!... E tudo porque se perdeu aquela parte "sagrada", condenada a perder-se!...
Admirável!
Escolha entre... beijos e abraços
Um poema tão cheio de tudo! Foi bom reler:)
Beijocas
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