domingo, março 08, 2009

À minha noiva



Tu és flor; as tuas pétalas
orvalho lúbrico molha;
eu sou flor que se desfolha
no verde chão do jardim.'
Têm por moda agora os líricos
versos fazer neste estilo...
— Tu és isso, eu sou aquilo,
tu és assado, eu assim...
Às negaças deste gênero,
Carlotinha, não resisto:
vou dizer que tu és isto,
que aquilo sou vou dizer;
tu és um pé de camélia,
eu sou triste pé de alface,
tu és a aurora que nasce,
eu sou fogueira a morrer.
Tu és a vaga pacífica,
eu sou a onda encrespada,
tu és tudo, eu não sou nada,
nem por descuido doutor;
tu és de Deus uma lágrima,
eu sou de suor um pingo,
eu sou no amor o gardingo,
tu Hermengarda no amor.
Os fatos restabeleçam-se,
ó dona dos pés pequenos:
eu sou homem — nada menos,
tu és mulher — nada mais;
eu sou funcionário público,
tu minha esposa bem cedo,
eu sou Artur Azevedo,
tu és Carlota Morais.

Artur Azevedo

Foto retirada do Google

2 comentários:

Fatyly disse...

Que delícia de hino à mulher amada. Não conhecia e adorei:)

Essa camélia é lindissima e os jardins de Sintra com as suas cameleiras de várias cores já estão cheios de rebentos:)

Beijocas e um resto de dia bem passado

Paula Raposo disse...

Está fantástico!! Como parece simples escrever assim...beijos.