quarta-feira, junho 29, 2005

Espera



Esperava impaciente.
A espera no corpo. A espera antecipação.

Sentia já as mãos que conhecia. As mãos que a conheciam.
Quantas palavras ditas, descritas, em gestos. Em silêncio.
De gestos, silêncios, faziam também o amor.

Na boca sentia já outra boca.
Outra língua que não a sua. Outras palavras que não as suas.
Outro ar que não o seu.

Fechou os olhos. Contraiu as coxas.
Nas coxas cerradas, nos músculos contraídos, nas pernas, no sexo, sentia já o prazer. O sexo dele.
Os movimentos lentos primeiro. Urgentes depois.

Sorriu.
A recordação do olhar surpreso, da voz que lhe dizia:
- Ninguém ama como tu. Ninguém é entrega, dádiva, corpo e prazer como tu.

Sabia que ririam. Como sempre.
Sabia que seriam riso e alegria. Prazer de estar junto.

Ele entrou.
Olhou-a. Estendeu-lhe a mão.
Ela olhou-o.Recebeu-o.

Foto: Haleh Bryan

Conto: ENCANDESCENTE

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