quinta-feira, junho 16, 2005

Comunicação



Como um poente congestionado
De vagalumes irreais
É o sete-estrelo desenfreado
Rosa de chamas descomunais

Saltam-lhe os pulsos como foguetes
As mãos são Vestas embriagadas
Parando as cenas dos banquetes
Em saturnais carbonizadas

Incham-lhe os seios como mechas
De Salomé desintegrada
Por quem cem líricos lamechas
Ficam ardendo sem dar por nada

Uma manada de trovões
Leva a cidade nos seus cornos
Assam marquesas nos salões
Como perus dentro dos fornos

Os rechonchudos anjos das casas
Expiam crimes ancestrais
Mamando restos de leite em brasa
Nos esqueletos maternais

As salamandras uterinas
Queimam devassos nas suas camas
Com quem celebram fesceninas
E derradeiras núpcias de chamas

Os acadêmicos no espeto
Fazem um esforço de memória
Para manterem o esqueleto
Em ademanes de oratória

Em catedrais de mil archotes
Numa luxúria de extrema-unção
Um frenesi de sacerdotes
Tem um orgasmo de Inquisição

As labaredas quais proxenetas
Dos cidadãos mais importantes
Levam incêndios de meias pretas
A mercadores de diamantes

Logo que estoura algum ministro
E a sua alma estruma os campos
Rebenta um trigo mais sinistro
Nesta seara de pirilampos

Nos semicúpios incandescentes
Dos seus tesouros derretidos
Os milionários têm repentes
Têm remorsos de homens falidos

E um Desejado de lua nova
Noivo da Pátria vem finalmente
Buscar a noiva para a sua cova
E dá-lhe a Morte como presente

Natália Correia

Imagem daqui

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