segunda-feira, novembro 30, 2009

Poema VI



Te recordo como eras no último outono.
Eras a boina cinza e o coração em calma.
Em teus olhos pelejavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água de tua alma.

Apegada a meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam tua voz lenta e em calma.
Figueira de estupor em que minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre minha alma.

Sinto viajar teus olhos e é distante o outono:
boina cinza, voz de pássaro e coração de casa
fazia onde emigravam meus profundos anseios
e caiam meus beijos alegres como brasas.

Céu desde um navio. Campo desde os cerros.
Tua recordação é de luz, de fumaça, de tanque em calma!
Mais além de teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam em tua alma.

Pablo Neruda

Imagem retirada do Google

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Que beleza outonal!!
Beijos

Mocho Falante disse...

Ai as saudades que eu já tinha das poesias doo Wind Club

beijocas doces

Fatyly disse...

Gostei deste Outono terno e saudoso de quem viajou no tempo.

Beijocas e uma boa tarde

Alien8 disse...

Wind,

Pablo Neruda, poeta e diplomata, como Vinícius. Não cantava, mas continua a encantar. E, no seu últimi poema, disse tudo.

Beijos.