domingo, novembro 29, 2009

Igreja



Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando trabalhando
mais perto do céu
cada vez mais perto
mais
- a torre.

E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu,
no alto fica Deus.
Domingo . . .
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Fatyly disse...

um poema bem original e verdadeiro que desconhecia. Adorei e a foto está fabulosa.

Beijocas e um bom domingo

Paula Raposo disse...

Irónico. Gostei.
Beijos.