sexta-feira, dezembro 05, 2008

Ode a Eros



Eros, Cupido, Amor, pequeno Deus travesso
Com quem todos brincamos!
Brincando nos ferimos,
Ferindo-nos gozamos,
Se rimos já choramos,
Mal que choramos rimos...
Já, voltados do avesso,
Por igual o voltamos,
O torturamos nós como ele nos tortura,
Descemos aos recessos da criatura...

Pequenino gigante!
Sonhava, ou não sonhava,
Quem te representou risonho e pequenino
Que de Hércules a clava
Não pesa como pesa a tua mão de infante,
Nem seu furor destrói
Como nos dói
Teu riso de menino?

Nas tuas leves setas
Nas flâmulas gentis
Que cantam os poetas
E os namorados juvenis,
Que longos ópios e letais licores,
Que pântanos de lodo e que furores,
Que grinaldas de louros e de espinhos,
Que abissais labirintos de caminhos!

Mascarilha de seda e de veludo
Sob a qual o olhar brilha, a boca ri,
Que olhar ambíguo ou mudo,
Que boca atormentada
Não terás além ti
Na mascarada?

Pai da Crueldade e da Piedade,
Filho do Crime e da Beleza,
Que infante serás tu, que, desde que há Idade,
Aos Ícaros opões a mesma astral parede,
E os Lázaros susténs dos restos dessa mesa
Em que se bebe sempre a mesma sede,
Se come
A mesma fome?

Divindade nocturna
Que te cinges de rosas,
Suprema fúria mascarada
Que a porta abres do céu... escancarada
Sobre o negro vazio duma furna,
Que a urna de cristal nas mãos formosas
Vens ofertar às bocas sequiosas
E escorres sangue do cristal da urna,
Que tens tu afinal, ao fundo da caverna
Sempre aos mortais vedada:
A eterna morte... o nada,
Ou a vida eterna?

José Régio

6 comentários:

Fátima Santos disse...

quero ver-te daqui pouco, sim?
Caríssimo/a
Faria muito gosto em ver-te neste momento que, não sendo só meu, ou por isso, gostava que partilhasses
hoje, daqui a pouco, pelas 19.30 na Livraria Barata em Lisboa o lançamento do livro Jogo dos 22 olhares

Um abraço
Fátima

Paula Raposo disse...

Uma ode perfeita!!! Gostei da tua escolha para hoje. Beijos.

Fatyly disse...

Uma magnífica escolha!

Beijocas e um bom dia

peciscas disse...

Estou, pouco a pouco, a retomar o contacto com a gente amiga.
E aqui, como sempre, há bom gosto e qualidade.

Alien8 disse...

Wind,

E foste lembrar-te do Chico Anysio!

De tudo o que vi e li, tocou-me mais o poema do Eugénio de Andrade, e a foto que o acompanha. Mas o conjunto é muito bom.

Parabéns por continuares a postar assim.

Bom fim de semana e um beijo.

Aníbal Duarte Raposo disse...

Belo poema. Magnífica escolha.