sábado, agosto 09, 2008

Presença africana



E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...

- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a Presença Africana,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa história inconseqüente...

Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...

Alda Lara

Imagem retirada do Google

4 comentários:

peciscas disse...

Poema forte e saboroso. Com o inconfundível ritmo e odor africano.

Fatyly disse...

Já conhecia este poema sofrido e bem doloroso desta poetisa já falecida.

As Ingombotas eram ladeada de acácias bem vermelhas!

Beijocas

Paula Raposo disse...

Fantástico!! Ritmo alucinante de África. Beijos.

papagueno disse...

Lindo cheirinho a África. beijos