quarta-feira, agosto 13, 2008

No país dos sacanas



Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glandulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é.E pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.

Jorge de Sena

Imagem daqui

4 comentários:

Fatyly disse...

Este poeta tem razão e aiiiiiiii coitada da Branca de Neve como mudou LOLLLLLLLLLLLL

Adorei:)

Bom dia *******

Paula Raposo disse...

Fabuloso Grande Jorge de Sena!! E tu escolheste a imagem certíssima!! Beijos.

Isabel Filipe disse...

Não conhecia ...


adorei o poema



bjs

papagueno disse...

E o da imagem é um dos campeões da sacanice.
beijos