sexta-feira, agosto 01, 2008

Adeus



Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve - e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.
Como se a noite se viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
Digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou, se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.

Eugénio de Andrade

Foto:Stanmarek

3 comentários:

Fatyly disse...

Um belo poema deste grande senhor.

Um resto de bom dia:)**

Paula Raposo disse...

E que poderei dizer eu de toda a sensualidade do Mestre Eugénio de Andrade??! Nada. Calar-me e saborear...beijos.

papagueno disse...

Como custa dizer adeus.
beijos