Era a primeira
vez que nus os nossos corpos
Apesar da penumbra à vontade se olhavam
Surpresos de saber que tinham tantos olhos
Que podiam ser luz de tantos candelabros
Era a primeira vez cerrados os estores
Só o rumor do mar permanecera em casa
E sabias a sal, e cheiravas a limos
Que tivesses ouvido o canto das cigarras
Havia mais que céu no céu do teu sorriso
Madrugada de tudo em tudo que sonhavas
Em teus braços tocar era tocar os ramos
Que estremecem ao sol desde que o mundo é mundo
É preciso afinal chegar aos cinquenta anos
Para se ver que aos vinte é que se teve tudo.
David Mourão-Ferreira
Foto:jeh182_2nd
5 comentários:
Para além de bom poeta, era um xenxualão, o David.
Fabuloso David!! Sempre sensual, sempre fantástico!! Beijos.
É O David de sempre.
No entanto, não sei se concorde com ele quando diz que é preciso chegar aos cinquenta para se ver que aos vinte é que se teve tudo...
Acho que não concordo mesmo.
Discordo totalmente da sentença final do poema...
Já conhecia e continuo a dizer que é lindo e comovente, mas termina "bué da mal":) porque aos cinquenta também se pode ver estrelas e limos e saber a sal desde que se esteja para aí virado:)
Mas também penso que o pobre coitado ficou bem marcado aos vinte que trinta anos depois ainda a recorda.
Enfim:)
Beijocas
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