domingo, maio 09, 2010

Quando eu morrer



Quando eu morrer
eu quero que o N'Gola Ritmos
vá tocar no meu enterro.

Como Sidney Bechet
como Armstrong
eu gostarei de saber

que vocês
tocaram no meu enterro.

Lá no céu também há "angelitos negros"
e eu gostarei de saber
que vocês
me tocaram no enterro.

Se não puder ser
deixem lá
tocarão noutro lado qualquer
com lágrimas nos olhos
como naquela noite
em casa do Araújo
lembrarão o companheiro
das noites de Luanda
das noites de boémia
das tardes de moamba.

Ah! Quando eu morrer
já sabem
quero que o meu caixão
vá no maxibombo da linha do Cemitério
quero que toquem
a Cidralha
ou convidem a marcha dos Invejados.

É assim que eu quero ir
acompanhado da vossa alegria
bebedeiras seguindo o enterro
as velhas carpideiras de panos escuros
quero um kombaritókué dos antigos
que vai ser muito falado.

Não convidem mulatas
que sempre estragam tudo
Se vierem
não lhes vou rejeitar.
Cantem apenas
alguns dos meus poemas
até enrouquecer.

Ah! quando eu morrer
eu quero o N´Gola Ritmos
tocando no meu enterro.

Ernesto Lara Filho (Angola)

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Gostei deste poema que não conhecia.
Um ritmo bem bonito!
Beijos.

Fatyly disse...

Foi tão bom reler este poema e sentir o cheiro e acordes da minha terra.

Mas quando eu morrer quero a mesma alegria e partirei com um pensamento...fiz o que pude, toquei a ocarina da vida,levei o meu maximbombo até onde pude, quem cá ficar que se lixe e as minhas cinzas fossem deitadas no Rio Kuanza ou Bengo, mas não sendo possível...que as deixem no lugar comum.

A D O R E I...ai uê mamã:)

Beijocas e um bom dia