segunda-feira, julho 21, 2008

O insecto



Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.

Sou mais pequeno que um insecto.

Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centimetros queimados,
pálidas perspectivas.

Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!

Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.

Para teus pés resvalo
para as oito aberturas
dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto teu contorno
de vaso escaldante!

Pablo Neruda

Foto:Stanmarek

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Perfeita escolha, Isabel!! A sensualidade do poema com a da foto. Fantástico!

Fatyly disse...

Já tinha lido este poema e tenho que rir porque o verso: "Sou mais pequeno que um insecto" tira-me do sério e fico sempre com a sensação de ver um...incomoda, dá comichão e olha, o que queres? balha-me deus. Tenho que ler omitindo o dito:)

A foto está fabulosa.

Desculpa lá mas ainda não parei de rir:)

Uma beijoca

peciscas disse...

Mais uma espiral de sensualidade do Neruda.

papagueno disse...

CVomo eu adoro este poema. Na minha opinião, um dos mais sensuais do pablo.