sexta-feira, maio 23, 2008

O suicida



O suicídio
não é algo pessoal
Todo suicida
nos leva
ao nosso funeral

O suicida
não é só cruel consigo.
É cruel, como cruel
só sabe ser
- o melhor amigo.
O suicida
é aquele que pensa
matar seu corpo a sós
Mas o seu eu se enforca
num cordão de muitos nós.

O suicida
não se mata em nossas costas.
Mata-se em nossa frente
usando seu próprio corpo
dentro de nossa mente.

O suicida
não é o operário
É o próprio industrial, em greve.
É o patrão
que vai aonde
o operário não se atreve.

Todo homem é mortal.
Mas alguns, mais que outros,
fazem da morte
- um ritual

O suicida, por exemplo,
é um vivo acidental.
É o general
que se equivocou de inimigo

e cravou sua espada
na raiz do próprio umbigo.
Mais que o espectador
que saiu no entreato,
o suicida
é um ator
que questionou o teatro.

O suicida
é um retratista
que às claras se revela.
Ao expor seu negativo,
queima o retrato
- e se vela.

O suicida, enfim,
é um poeta perverso
e original
que interrompeu seu poema
antes do ponto final.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Rakesh Syal

7 comentários:

Special K disse...

Eu seria inacapaz de acabar o meu poema antes do ponto final.
BJKS

Paula Raposo disse...

Poema contundente!!

Lola disse...

Wind,

O suicídio ultrapassa o instinto vital de sobrevivência.

O nosso corpo luta com tudo o que tem pela vida.

O suicídio é uma vitória (?) amarga.

Beijos

peciscas disse...

Um poema algo mórbido, mas que não deixa de ser lúcido.
Faz-nos pensar!

Nilson Barcelli disse...

Uma visão do suicída diferente da habitual.
Mas muito questionável, ainda que bem escrito. Provavelmente uma provocação, mas eu não conheço o poeta.

Bfs, beijinhos.

Fatyly disse...

Dá que pensar e nunca desvalorizar os pequenos sinais.

Beijos

Su disse...

gostei de ler..............


asim...........

jocas maradas