segunda-feira, maio 12, 2008

Cântico



Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.

José Régio

Foto:Yuri Bonder

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Tão sensualmente doce!!!

Special K disse...

Sensual, doce e bonito. Mais um grande poema do José régio.
Bjks

peciscas disse...

A força e a sensualidade de uma das faces do Régio.