terça-feira, maio 20, 2008
A mulher que passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Vinícius de Moraes
Foto:Gianluca Nespoli
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5 comentários:
Como são fortes e efémeros, com "raizes de fumaça", estes ardores masculinos. Quando passa outra esquece-se logo a anterior ;)
Grande poema do Vinícius
Bjks
Lindissimo este hino à mulher!
Beijos
Oh sublime Vinícius!!!
ser mulher...é poesia!
belíssimas escolhas
beijos
Há sempre uma história oculta numa mulher que passa e que, para além do Vinicius, muito outro homem desejaria desvendar.
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