sábado, maio 10, 2008
Não és tu
Era assim tímido esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar;
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.
Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.
Era assim; e seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.
Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.
Mas não és tu... ai! não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.
Almeida Garrett
Foto:Yuri Bonder
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4 comentários:
Boa escolha. Kiss e Bom Fim de Semana
Neste teu cantinho onde o bom-gosto impera, consegues sempre ser eclética nas tuas excelentes escolhas.
E o romantismo de Garrett!!!
Como os grandes poetas escrevem de maneira simples e clara sem necessidade de metáforas arrevesadas...
Beijinhos
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