quarta-feira, maio 07, 2008
Novas poesias inéditas
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro
Foto:Rakesh Syal
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8 comentários:
Bela escolha... Caeiro sempre Caeiro.
Kiss e Boa Semana
"Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou"...
......................
para muitos...bem actual.
Beijocas e um dia com tudo de bom:)
Na minha ignorância, não gosto e não concordo. Aliás, como já tenho dito, Fernando Pessoa ou qualquer dos seus heterónimos, raramente me diz alguma coisa. Beijinhos, Isabel.
e eu delicio-me sempre com o mestre
fazem-me sempre pensar
8quando é que será que vejo aqui o saramago? :) )
Um beijinho e um sorriso
E agora, Wind? :)))
Desculparás a minha falta de tempo para comentar tudo?
Excelente, a imagem que acompanha o poema do Drummond!
Beijinhos.
Mais uma introspecção profunda e inquieta do Pessoa/Caeiro
Uma visita para matar saudades e ler as tuas boas escolhas.
Beijos
"Quem tem alma não tem calma"
Eu também me pergunto, quantas almas terei?
Bjks
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