segunda-feira, junho 21, 2010
Provérbios homeostéticos tropicais
O homem é uma besta
que aprende a ser mundo depressa
Debaixo das cortinas a sogra do guru
manobra com a colher de pau o futuro
A raiva não tem nenhum olho do cu
O gengibre que comeu o macaco
foi parar à boca do leão
É melhor saber nadar
do que saber estacionar
Só aos olhos dos discípulos
os santos não voam de avião
De que serve vender uma vaca
quando ela está barata?
A rã dá o mote,
o elefante o problema.
Os cavalos relincham e os elefantes bramem
no sono do ladrão do hindustão
Coelho que mate cão
tem mais dentes que um leão
No umbigo da dançarina adivinha-se o que está em baixo
e esquece-se o véu de cima
Entre a generosidade e o desperdício
há muita hipocrisia e algum vício
Quando uma muralha se ajoelha a um camelo
até as montanhas mastigam caramelo
Um rio que lava num povo
não é um povo que lava no rio
Os que dão o que não têm
é porque têm o que não dão
Um furo na terra pode muito bem
ser um princípio de uma boa guerra
Deus castiga os pobres mas dá dinheiro aos ricos
para comprar penicos
È necessário ir pelo atalho errado
sempre que a direcção seja a do Fado
Quando os deuses deixarem de ser tagarelas
usaremos os tachos e as panelas
O verdadeiro badalhoco parte a cabeça
mas não parte o coco
As sombras gostam de adular os sombreros
Osso que engole cachorro torna-se osso mais grosso
Se quiseres fixar o apocalipse
usa no mínimo um clips
Quando não ladra o cão ladra o ladrão
Homem que se vira para Meca
é aquele que oferece pente a careca
Sabedoria sem faro até o pó torna caro
Cultive um pouco o mal antes de o julgarem genial
Para cada pensamento um poço
para o refrescar ou afogar.
Mesmo que laves os pés no Ganges
não tornarás as sandálias sagradas
O «melhor silêncio» já não funciona nem como penso
É mais interessante ser desonesto
do que ser pastor protestante
A rã coaxa porque teme transformar-se num mestre Zen
O iluminado é o que sabe melhor fingir a condição do desamparo.
A chuva que cai no artista é mais maldita do que a que cai no crítico.
Nunca somos reconhecidos pelas marcas que deixamos.
O que têm um pé na estrada e outro no carro não anda depressa.
Quem dá ouvidos a um mentiroso conhece a embriaguez do desconhecido.
O fumo é mais credível do que a sabedoria.
Cuidado com os silenciosos: acabam sempre por morder nos ociosos.
É mais prático ser um lambe-botas do que um bravo índio morto.
O cobarde que já morreu muitas vezes está pronto para morrer muito mais.
Quando uma raposa anda com o cio, resguarde-se o coelho do frio.
Quem come o outro: o lobo ou o bobo?
Quem tem a eloquência de uma cascavel é capaz de reconstruir Babel.
Um sonho que ladra é um mundo que não morde.
A lua tem vergonha do coiote.
Os donos de gatos têm mais pulgas que ratos.
Ninguém é bom juiz de ninguém, quanto mais de si.
Diz-me que o que não quero ouvir e até de mim me esquecerei.
Na floresta até o animal mais estúpido sabe mais que o biólogo catedrático.
Na jaula todos os leopardos são gatos.
Quem aprende a amar a morte odeia o próximo.
Não faças ovos escalfados hoje
com as omeletes de amanhã.
O Erro é mais omnipotente do que Deus.
Somos estrangeiros sobretudo para parentes com mais dinheiro.
Não julgue o seu vizinho
até ele lhe roube seus moccasins.
Se fizer uma pergunta com o coração
é provável que tenha uma resposta tripeira.
Sabedoria do grito é mais profunda que a do conceito.
A arte é o que transforma o imprevisto no premeditado.
Nariz que estrangule índio ter grande sucesso na televisão.
É a humilhação que desrespeita os homens e os deuses.
Um abutre aprende a voar até com o Futre.
Quem ama um índio verdadeiro
não ama um escoteiro.
O coração pode ensinar muita coisa,
mas nunca astrofísica.
Se queres ser melhor do que os outros
não os leves na mesma embarcação.
O desordeiro tem as temíveis qualidades
que podem fazer dele um chefe.
Se queres tornar o mundo grande
torna as coisas mais pequenas.
O corvo não é uma animal de decoração
para fabricar uns versos de ocasião.
O cobarde, quando atira de olhos fechados,
tem os olhos mais abertos do que o mais valente guerreiro.
O artista deve no mínimo fazer a sua própria arte.
Até a planta mais pura tem qualquer coisa de bastardo.
A guerra é a nossa mãe
e por isso vamos para a guerra.
Quando o homem se afasta da mãe terra
é para arranjar dividas em Camberra.
Mãos moles,
coração duende.
O arco-íris não serve para construir pontes.
Um homem que tem demasiados chefes
é como uma puta com muitos chulos.
Quem acredita na tranquilidade da velhice
é porque nunca entrou num lar.
Uma pessoa sem história
é como uma história sem pessoas.
O bico do tucano traz a musa no ventre.
Quem faz bifes de bisontes
curte peyotle e horizontes.
A elasticidade do vazio
é boa para saltar à corda.
Bravo inimigo forte dançar paz com fox-trot.
Grande espírito ajudar relva a crescer mais depressa.
A fraqueza do inimigo é a consolação do estratego idiota.
Um rato pequeno
não dá um grande bife.
Chá não alimentar grande tribo.
Quando nos falta deus sempre temos a pastilha elástica.
Então Deus disse: «A minha relação com a Criação está numa fase difícil.»
É mais fácil mudar de continente do que de feitio.
O homem foi feito de barro mas passa a vida a andar de carro.
A cor da pele é como os pelos nas costas.
Um índio prefere confiar na onça do que num branco.
Os povos satisfazem-se com os seus líderes como os porcos com a lama.
Pedro Proença
Imagem retirada do Google
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2 comentários:
Estes "Provérbios homeostéticos tropicais" são uma delícia. Acho que vou guardá-los, porque cada frase/pensamento dá para desenvolver um poema ou até um texto em prosa...
Boa semana, beijos.
São fantásticos estes provérbios!!
Beijos.
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