sexta-feira, junho 04, 2010

Negra



A negra para tudo
a negra para todos
a negra para capinar plantar
regar
colher carregar empilhar no paiol
ensacar
lavar passar remendar costurar cozinhar
rachar lenha
limpar a bunda dos nhozinhos
trepar.
A negra para tudo
nada que não seja tudo tudo tudo
até o minuto de
(único trabalho para seu proveito exclusivo)
morrer.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem retirada do Google

6 comentários:

Paula Raposo disse...

Deveras real!
Beijos.

Fatyly disse...

Deleciei-me com a foto e tenho um pano igual ao da senhora, que de repente me levou até à minha Talemba que era senhora e dona do seu espaço e ainda recordo as suas palavras quando saí de Luanda: Meninê, ai meninê nunca mais vou ver os meus "nhozinhos".

Mulheres de trabalho com total entrega e este poema é a realidade de tantas, não só de negras, mas também de brancas, mulatas, etc.etc.

Gostei!

Beijocas e um bom dia

polittikus disse...

adorei o texto, mas detesto a palavra velha...

Anónimo disse...

Vi ontem na TV (Telecine 3) um filme extraordinário em que uma preta (é assim mesmo que se diz) fazia uma interpretação espectacular.
De mãe ("emprestada"), de amiga, de tudo.

Se me permites, Wind, reitero o que disse polittikus : o termo "velha" deveria ser banido.
Podemos (e devemos) substituí-lo por idosa.

wind disse...

Concordo, mas onde está aqui a palavra velha?

Fatyly disse...

Detesto a palavra IDOSA e prefiro dizer e digo e não me importo que me chamem...VELHA:)))

Felizmente que há opiniões divergentes e no post não aparece a palavra "velha", apenas vem da belissima foto:)