segunda-feira, setembro 07, 2009

Mar



Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Sem palavras...para Sophia, para o mar! Sublime! Obrigada, Isabel. Beijinhos.

peciscas disse...

O mar purifica-nos.

Menina Marota disse...

O Mar... a minha força vem dele...
Belo o poema.

Bjs