quinta-feira, julho 30, 2009

Nocturno



Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava...

Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.

Era no gira-discos, o Martirio
de São Sebastião, de Debussy....
Era, na jarra, de repente, um lirio!
Era a certeza de ficar sem ti.

Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, na sombra, um choro de criança...

David Mourão-Ferreira

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Já disse como admiro David Mourão-Ferreira!! Que maravilha! Obrigada. Beijinhos.

suco disse...

E este poema transmite-nos de tal forma uma atmosfera, que a sentimos como se estivéssemos lá.

peciscas disse...

O anterior era eu...