quinta-feira, julho 16, 2009

Amor



A jovem deusa passa
Com véus discretos sobre a virgindade;
Olha e não olha, como a mocidade;
E um jovem deus pressente aquela graça.

Depois, a vide do desejo enlaça
Numa só volta a dupla divindade;
E os jovens deuses abrem-se à verdade,
Sedentos de beber na mesma taça.

É um vinho amargo que lhes cresta a boca;
Um condão vago que os desperta e toca
De humana e dolorosa consciência.

E abraçam-se de novo, já sem asas.
Homens apenas. Vivos como brasas,
A queimar o que resta da inocência.

Miguel Torga

Foto:George Portz

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Belo poema de Torga!! Obrigada pela partilha, Isabel. Beijinhos.

Krystal disse...

A admirável virgindade!... Há que se perca por ela, perdendo-se e outros que pela perda se perdem!... Há quem se encontre nessa perda e continue reencontrando-se em admiráveis momentos... de prazer!... E tudo porque se perdeu aquela parte "sagrada", condenada a perder-se!...
Admirável!


Escolha entre... beijos e abraços

Fatyly disse...

Um poema tão cheio de tudo! Foi bom reler:)

Beijocas