segunda-feira, março 29, 2010

De relance, O Alentejo



Um céu abafadiço, um ar de ausência
esperando nuvens imóveis no céu baixo.
A terra, já das ceifas recolhida,
alonga-se manchada a flores tardias,
roxas, vermelhas, amarelas, brancas,
como penugem de esquecida Primavera.

Por entre os campos, os cordões rugosos
dos caminhos para toda a parte,
menos para os campos, que pacientemente evitam.
Na linha do horizonte próxima ou distante
conforme as ténues cristas da planura imensa,
um claror de céu, um tufo de arvoredo,
alternadamente se tocam e se afastam.

De súbito, num alto que a planície esconde,
as casas surgem brancas e compactas.
Como surgem, mergulham
na sombra poeirenta de azinhagas em ruínas.
Ainda se demora uma torre antiga,
escura, com ameias e janelas novas,
caiadas.
Um rio se advinha. Mas, de ao pé da ponte.
de novo apenas o ondular da terra,
um crespo recordar só de searas idas.

Jorge de Sena

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Uma excelente descrição!
Beijos.

Fatyly disse...

Tal e qual e como gosto do Alentejo e das suas gentes.

A imagem está a condizer com o poema.

Beijocas e um bom dia

Nilson Barcelli disse...

Excelente escolha, como sempre.
Boa semana e boa Páscoa.
Beijos.