sexta-feira, março 05, 2010
***
Não há motivo para te importunar a meio da noite,
como não há leite no frigorífico, nem um limite
traçado para a solidão doméstica.
Tudo desaparece. Nada desaparece. Tudo desaparece
antes de ser dito e tu queres dormir descansada. Tens
direito a um subsídio de paz.
Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te
importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas
de manhã cedo.
Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho o
o direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa
evidência me matar agora.
E morro, mas não morro. Se morresse, perguntavas:
porque não me telefonaste? Se telefonasse, perguntavas:
sabes que horas são?
Ou não atendias. E eu ficava aqui. Com a noite ainda
mais comprida, com a insónia, com as palavras
a despegarem-se dos pesadelos.
José Luís Peixoto
Imagem retirada do Google
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5 comentários:
Muito bem explicado.
Beijos.
A escrita deste jovem é simplesmente divinal! ADOREI!
Beijocas
Goza, Isabel, goza!
ah ah ah
Beijinhos
hum.... Recado para alguém!? Gostei...
Não é recado a ninguém:)
O comentário do António é sobre um que deixei no blog dele:)
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