quinta-feira, novembro 27, 2008
O Amor bate na porta
Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.
Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.
O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.
Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.
Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não posso compreender...
Carlos Drummond de Andrade
Foto retirada do Google
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5 comentários:
Como gosto 'deste drummond'!
Beijo!
Fantástico!! Mais uma escolha soberba...muitos beijos.
O amor pela vida, esse estado de graça que nos leva a ver o mundo com outros olhos
"Vejo muitas outras coisas
que não posso compreender..."
e fui a correr à porta aiiiiiii SR.Frio quem mandou o siô entrar?:))))
Lindissimo e a foto está tão bela.
Uma beijoca e um BOM DIA:)))
hoje andei por aqui em rodopios.............e gostei de tudo o que li e vi
excelentes escolhas
jocas maradas.......sempre
Náo se pode deixar de gostar dele!
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