sexta-feira, novembro 21, 2008

Canção da Primavera



Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
pois que maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar flor, já não dou.

Eu, cantar já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul,calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arripio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem, com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar,não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

José Régio

Foto retirada do Google

5 comentários:

Fatyly disse...

Quando nos damos totalmente por vezes esquecemo-nos de nós próprios.
Sempre que leio este poema e conforme a onda, suscita-me sentimentos diferentes, daí eu gostar tanto dele.

Beijocas e um Bom Dia

Paula Raposo disse...

Belo poema...

peciscas disse...

Concordo com a análise da Fatyly a mais este excelente Régio.

A. Jorge disse...

Excelente escolha!

Um beijo

Jorge

Anónimo disse...

muito bem escolhido sinal de bom gosto

carla