domingo, novembro 07, 2004

Sophia de Mello Breyner e Andresen




Como o rumor do mar dentro de um búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.

Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.


Foto:Ricardo Cordeiro

1 comentário:

lique disse...

"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"

Será que volta? As nossas saudades são muitas. Beijinhos, amiga.