Maria sejas louvada
Maria sejas louvada
Como és tão apertada
Uma virgindade assim
É coisa demais p'ra mim.
Seja como for o sémen
Sempre o derramo expedito:
Ao fim dum tempo infinito
Muito antes do amen.
Maria sejas louvada
Tua virgindade encruada
'Inda me pões fora de mim.
Porque és tão fiel assim?
Por que devo eu, que dialho
Só porque esperaste tanto
Logo eu, o teu encanto
Em vez doutro ter trabalho?
Aula de amor
Mas, menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.
Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.
Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.
Soprava o vento pela fresta
Soprava o vento pela fresta
A menina comia nêspera
Antes de dar em segredo
O níveo corpo ao folguedo:
Mas antes provou ter tacto
Pois só o queria nu no acto
Um corpo bom como um figo
Não se vai foder vestido.
Para ela em tempos de ais
Nunca o gozo era demais.
Lavava-se bem depois:
Nunca o carro antes dos bois.
À descoberta de Bertolt Brecht por Wind e Maria Branco
Foto: Alexandre T.
1 comentário:
Deliciosos estes poemas de Brecht. Espelho da sua irreverência e atitude "pragmática" perante o amor. Uma boa parceria se reuniu aqui. Um beijo às duas.
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