sexta-feira, novembro 19, 2004
Fernando Pessoa
Não sou quem eu descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.
Que importa o tédio que dentro em mim gela,
E o leve Outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálidos de cetim?
Disperso...E a hora como um leque fecha-se...
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se...
E, abrindo asas para Renovar,
A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado...
Foto:Karel Sobota
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