sexta-feira, novembro 26, 2004

Pirata




Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.


Sophia de Mello Breyner e Andresen

Foto:Valter Bártolo

3 comentários:

Pink disse...

Eu ... também me sinto pirata às vezes! Belíssimo poema o da Sophia!Bela igualmente a fotografia! Beijinhos!

Luis Duverge disse...

Pirata eu digo Pre-da-dor
Web Club eu digo Alma com dor
Wind eu digo Luis
Bom fim de semana ... se fores lá a casa, tira os sapatos ... assim ninguém te ouve.
Beijo ao vento.

lique disse...

Sophia. sempre, não é Wind?;) A liberdade completa de ser "o´único homem a bordo do barco". Beijinhos