sexta-feira, novembro 12, 2004

Mãos dadas




Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Carlos Drummond de Andrade




1 comentário:

lique disse...

Um poema ligado à realidade.
"O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."

Sempre gostei muito da poesia de Drummond de Andrade. Muito, mesmo. Beijinhos