quinta-feira, novembro 18, 2004

Gosto de ti calada...




Gosto de ti calada porque estás como ausente
e me ouves de longe, e esta voz não te toca.
Parece que os teus olhos foram de ti voando
e parece que um beijo fechou a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
tu emerges das coisas, cheia da alma minha.
Borboleta de sonho, pareces-te com a minha alma
e pareces-te com a palavra melancolia.

Gosto de ti calada e estás como distante.
E estás como queixando-te, borboleta em arrulho.
E ouves-me de longe, e esta voz não te alcança:
vais deixar que eu me cale com o silêncio teu.

Vais deixar que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
Tu és igual à noite, calada e constelada.
O teu silêncio é de estrela, tão longínquo e tão simples.

Gosto de ti calada porque estás como ausente
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um teu sorriso bastam.
E estou alegre, alegre porque não é verdade.


Pablo Neruda

Foto:Pedro Gomes

1 comentário:

Fátima Santos disse...

linda Wind! há pouco não consegui abrir isto! e ia escrever: se O Neruda te conhecesse (se...te conheceu no vento outro que por ele passou ...) o poema seria teu e ele lhe chamaria Wind! Um beijinho!