terça-feira, novembro 09, 2004

Corpo de mulher




Corpo de mulher, crancas colinas, coxas brancas,
assemelhas-te ao mundo no teu jeito de entrega.
O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim fugiam os pássaros,
e em mim a noite forçava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.
Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os copos do peito! Ah os olhos da ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.


Pablo Neruda

Foto:Walmir Piva

1 comentário:

lique disse...

Querida amiga, hoje tens que me perdoar por só chegar tao tarde mas durante o dia nao houve tempo para quase nada. E logo hoje que tenho aqui uma selecção extraordinária. Neruda é um dos meus poetas favoritos e este é quase um hino à mulher! Beijinhos