quarta-feira, novembro 10, 2004
Ao longo da muralha
Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Mário Cesariny
Para o:
amoergosum
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5 comentários:
Espero que gostes, especial:-) beijocas***
Claro que vai gostar deste magnífico poema de Cesariny. E lá fui eu espreitar outro blog! Beijinhos, amiga.
Quem é que iria não gostar de algo tão bonito? E dado com tanto carinho! E pronto, lá estou como a Lique, tenho que ir visitar mais um blogue :) bjs
Gostar, Wind?! É um dos "meus poemas"!
Beijo grande superespecial.
Wind, ontem, quando por aqui passei para deixar um abraço de boa noite, estava muito pressionada - um daqueles trabalhos que correm mal....Agora, de novo com os minutos contados, quero acrescentar: este poema de Mário Cesariny, You ARE WELCOME TO ELSINORE, tem uma primeira estrofe:
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e porteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
A "Assírio&Alvim" editou há anos um extraordinário cd, «"os poetas" entre nós e as palavras», onde, entre outros poemas de Al Berto, António Franco Alexandre, Herberto Helder, Luiza Neto Jorge e com música de Margarida Araújo, Rodrigo Leão, Gabriel Gomes, Francisco Ribeiro, podemos ouvir este Cesariny.
Ui! Alonguei-me! Perdão.
Voo! Dia especial para ti. Beijo agradecido.
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