quinta-feira, abril 15, 2010

Poema das sete faces



Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem retirada do Google

5 comentários:

Márcia Maia disse...

O poema é aquele que, do lado de cá do mar, a gente já nasce ouvindo. Agora, a foto é fantástica!

Um beijo.

Paula Raposo disse...

Excelente Drummond!!
Beijos, Isabel.

polittikus disse...

ui, ui como ela anda. Gostei, Gostei muito.

Fatyly disse...

Este não conhecia e gostei imenso. A foto está um must:)

Beijocas e um bom serão

Amélia disse...

É um dos meus preferidos do grande Drummomd...