domingo, abril 25, 2010

Cantiga de Abril



Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.

Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.

Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Jorge de Sena

Imagem retirada do Google

5 comentários:

Márcia Maia disse...

aqui, do outro lado do mar, ainda é dia 24. mas deixo um beijo e um cravo, logo hoje, pra vc. ;)

Fatyly disse...

Não podias ter escolhido melhor poema e digam o que disserem e apesar dos pesares, em LIBERDADE grito e ensino os mais novos que, apesar dos pesares dos maus políticos "a cor da Liberdade é verde, verde, verde, verde, verde e vermelha, vermelha"!

Beijos sorridentes e em LIBERDADE!

Patareca® disse...

Óptima escolha!!
Feliz 25 de Abril!
Não sei se te lembras de mim... sou o Norm, mas agora num registo completamente diferente.
Visita-me
Beijinhos!!

Paula Raposo disse...

Execelente escolha. Jorge de Sena e este poema!
Beijinhos.

polittikus disse...

Como já o escrevi neste blog. Adoro Jorge Senna....