segunda-feira, abril 05, 2010

Exercício



Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas, meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntou o que significavam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.

Nuno Júdice

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Adorei!
Beijos.

Fatyly disse...

Tanta coisa que fica por dizer...ADOREI!!!!

Beijos e um bom dia

Nilson Barcelli disse...

Entre outras coisas, gosto do discurso meticuloso do poeta, bem patente neste poema.
Bela escolha, como sempre.
Boa semana, querida amiga.
Espero que a tua Páscoa tenha sido boa.
Beijos.