sexta-feira, janeiro 29, 2010
Balada
Depois do sangue misturado,
depois dos dentes, dos lamentos,
estamos deitados, lado a lado,
e desfolhamos sofrimentos.
Temos trint'anos, mais trezentos
de sofredora exaltação.
É este o cabo dos tormentos?
Ai, não e não! Ainda não.
Saboreamos o passado
por entre os beijos mais violentos
e mais subtis que temos dado.
E o monumento dos momentos
oscila, desde os fundamentos,
a tão febril consagração.
Mas estacamos, sonolentos.
Agora, não. Ainda não ...
Tudo se torna esbranquiçado:
eram azuis, são já cinzentos
os horizontes do pecado ...
Há nos teus ombros turbulentos
cintilações, pressentimentos ...
Os nossos corpos descerão
para que abismos lamacentos?
Ah! não, e não! Ainda não!
Eis-vos, de novo, movimentos
que apunhalais a inquietação!
E assim unidos gritaremos
que não e não! que ainda não!
David Mourão-Ferreira
Imagem retirada do Google
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6 comentários:
DMF sempre exaltante!
Beijos.
David, sempre exaltante. E, também neste caso, musical.
adoro a forma como este homem põe dança nas palavras
beijocas
Fantástico mesmo! Só agora consegui deixar comentário porque de manhã não consegui:)
Beijos e uma boa noite e agora vou dormir
Adoro este poema.
gosto muito
jocas maradas
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