Palavras de um timorense à RTP
Timor fragilíssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais
Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem
Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói
Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violências mortes crueldade
E anos após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia --- espanto prodígio assombro ---
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha
Timor cercado por um bruto silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado
O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias
Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Foto retirada do Google
4 comentários:
Fabuloso poema! Beijos.
As imagens...imagens...imagens...que (in)felizmente marcam sempre um acordar do mundo "surdo e silêncioso" perante atrocidades.
Não conhecia e gostei imenso!
Beijocas e um bom dia
A mim, que vivi dois anos em Timor, que ficaram para sempre marcados na minha intimidade, este poema toca-me particularmente.
não conhecia de todo esta linda elegia a Timor...
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