segunda-feira, agosto 17, 2009

Tão grande dor



Palavras de um timorense à RTP

Timor fragilíssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói

Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violências mortes crueldade
E anos após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia --- espanto prodígio assombro ---
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um bruto silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado

O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto retirada do Google

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Fabuloso poema! Beijos.

Fatyly disse...

As imagens...imagens...imagens...que (in)felizmente marcam sempre um acordar do mundo "surdo e silêncioso" perante atrocidades.

Não conhecia e gostei imenso!

Beijocas e um bom dia

peciscas disse...

A mim, que vivi dois anos em Timor, que ficaram para sempre marcados na minha intimidade, este poema toca-me particularmente.

mfc disse...

não conhecia de todo esta linda elegia a Timor...